- Regina, minha filha, vai comprar ovo e feijão. Regina, acabou o detergente. Regina!!!
E lá ia eu. O mercado ficava no mesmo quarteirão da minha casa, levava cinco minutos a pé até lá. Um dia, a obrigação virou ALEGRIA. A rua do mercado começou a ficar diferente.
( O que mudou? Por que fiquei contente de ir ao mercado? Saibam no próximo capítulo! )
Operários começaram a cavar buracos bem fundos na calçada toda. Iam colocar canos para transportar água, porque nosso bairro sofria com a falta do líquido precioso. Foi uma obra necessária, mas causava transtornos na vida das pessoas que passavam. Sujava os sapatos de terra, as ferramentas faziam barulho, a poeira ia para tudo quanto é lado! Os buracos duraram um bom tempo, pois eles abriam e, depois, cavavam em outras ruas.
Muitos reclamavam, menos eu! Sabem por quê? Só ia ao mercado andando dentro dos buracos. Imaginava mil coisas. Eu me sentia o próprio tatu gigante, construindo a sua casa; uma princesa sendo perseguida por um monstro feroz; ou uma perigosa planta carnívora, crescendo cada vez mais; um robô lança-raios aprisionado numa caverna; um peixe dourado tentando sair de dentro da barriga da baleia...
E outras que já não lembro. Virou a minha brincadeira favorita. Passei até a me oferecer para fazer compras:
- Mãe, não está precisando de nada do mercado?
Ela fingia que não notava que eu demorava mais para chegar, com a roupa bem sujinha.
É claro que, um dia, a obra acabou e fecharam os buracos. Mas, nesse tempo, eu tive muita ALEGRIA!
F I M
( Viva eu, viva tu, e o buraco do tatu!!! Até a próxima história! )